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A segunda 'onda progressista' da América Latina: primeiro como tragédia, depois como farsa

Jan 07, 2024Jan 07, 2024

A eleição de Lula no Brasil e Petro na Colômbia em 2022 aumentou o ruído na mídia e nos círculos de esquerda sobre uma segunda 'maré rosa' na América Latina. Esta é uma referência à onda de governos ditos 'progressistas' que governaram vários anos em vários países do continente entre 1998-2015. Talvez seja apropriado que esses governos sejam descritos como uma maré 'rosa', pois certamente estão longe de serem 'vermelhos' socialistas. É preciso examinar o caráter dessa primeira onda, os motivos que permitiram que ela durasse tanto, porque chegou ao fim e as diferentes condições enfrentadas por essa nova onda.

É verdade que governos descritos pela mídia burguesa como sendo, de uma forma ou de outra, de centro-esquerda foram eleitos na Argentina (2019), Brasil (2022), Chile (2021), Colômbia (2022) e México (2018). Estes são os cinco maiores países da América Latina. A estes poderíamos acrescentar o curto governo de Pedro Castillo no Peru (a sexta maior nação), Bolívia (2020) e Honduras (2021).

Esta é uma grande reviravolta em relação aos governos abertamente de direita de Macri (Argentina), Bolsonaro (Brasil), Peña Nieto (México), Piñera (Chile) e os governos golpistas de Honduras e Bolívia. Estes também são os principais países que constituem o 'grupo de Lima', uma organização ad hoc criada em 2017 para realizar a mudança de regime na Venezuela em nome do imperialismo estadunidense.

Superficialmente, isso parece uma matriz bastante poderosa. Alguns, como Jacobin, em seu entusiasmo por esses governos chegaram a dizer que essa nova onda será mais forte que a primeira. No entanto, como explicaremos, muitos desses governos não são de esquerda; vários incluem representantes abertos da classe dominante; e nenhum deles tem um programa claro para desafiar o capitalismo.

Mas antes de entrarmos nisso, vale a pena analisar o caráter da primeira onda de 'governos progressistas' e as razões de sua queda.

Durante a década de 1980, a América Latina viveu o que ficou conhecido como “a década perdida”. As causas imediatas da crise relacionam-se com a crise capitalista mundial do final dos anos 1970. A contração da economia mundial levou ao colapso dos preços do petróleo e de outras matérias-primas, atingindo as economias latino-americanas que exportavam essas commodities para o mercado mundial. Soma-se a isso o aumento das taxas de juros nos países capitalistas avançados para combater a inflação descontrolada que se desenvolveu durante a década de 1970. Isso encareceu muito os juros da dívida externa da América Latina.

Essa combinação de fatores produziu uma forte contração econômica no continente como um todo. O PIB estagnou em 1981 (cresceu 0,8%) e contraiu em 1982 (-0,3%) e 1983 (-1,9%). Em termos per capita, o PIB contraiu 9% entre 1980 e 1985. Em 1982, o México não pagou sua dívida externa, provocando uma crise generalizada da dívida no continente. Os credores estrangeiros não estavam preparados para renegociar e exigiram seu dinheiro de volta.

O único recurso que tiveram foi o FMI, que interveio exigindo a implementação de brutais pacotes de austeridade, cortes maciços nos gastos do governo e privatizações de ativos estatais, tudo em nome do pagamento da dívida externa. Dezenas de milhões foram jogados na pobreza enquanto os governos foram forçados a pagar bilhões de dólares aos credores imperialistas no exterior.

As consequências sociais e políticas da crise foram sentidas em todo o continente. Eles desempenharam um papel importante no fim das ditaduras militares no Chile, Argentina e Brasil, enfraqueceram seriamente o domínio do PRI no México e levaram a uma revolta popular massiva na Venezuela em 1989.

Este foi o início do que ficou conhecido como “neoliberalismo”. Na realidade, essas foram as políticas impostas pelo imperialismo e pelas oligarquias locais para fazer os trabalhadores pagarem pela crise do capitalismo. Isso foi agravado no início dos anos 1990 pelo processo conhecido como 'globalização' – ou seja, a maior exploração do mercado mundial pelas potências imperialistas.